Missão Ortodoxa da Proteção da Mãe de Deus
Igreja Ortodoxa Russa - Patriarcado de Moscou
Diocese da Argentina, Brasil e América do Sul
O Sacramento da Confissão
Ofertando um coração contrito.

 

A preparação para a confissão não consiste em tentar se lembrar dos pecados da forma mais completa possível e até mesmo escrever cada um deles em um papel, mas sim tentar atingir esse estado de concentração, seriedade e oração, em que os nossos pecados, fiquem claros como a luz do dia. Em outras palavras, se deve levar ao confessor não uma lista de pecados, mas um sentimento de arrependimento, não uma dissertação detalhada, mas um coração sofredor.

Mas conhecer nossos pecados ainda não significa que nos arrependemos deles.

O Senhor aceita a nossa confissão sincera e honesta, mesmo quando não é acompanhada por um forte sentimento de arrependimento(se corajosamente confessarmos esse pecado também - a nossa indiferença de um coração "endurecido como pedra").
No entanto, "um coração pesaroso" que tem pesar sobre os próprios pecados, é o mais importante que podemos trazer para a confissão.

Mas o que podemos fazer se o nosso coração, endurecido pelas chamas do pecado, não é irrigado por vivificantes lágrimas? E se a fraqueza de nossas almas e corpos é tão grande, que somos incapazes de nos arrependermos sinceramente?

Esta não é certamente uma razão válida para atrasar a nossa confissão: Deus pode tocar o nosso coração, mesmo no curso de confissão, o próprio processo de confessar, de nomear os nossos pecados pode acalmar o nosso coração, esclarecer a nossa visão espiritual, aguçar o nosso sentimento de arrependimento.

A preparação para a confissão serve para superar nossa indiferença espiritual: o jejum que emacia os nossos corpos e interrompe a saciedade física, que é tão destrutivo para a nossa vida espiritual, a oração, a lembrança da morte, a leitura do Evangelho, da vida dos santos e das obras dos Santos Padres, a nossa luta sincera com nós mesmos, o fazer boas ações.

Nossa indiferença, durante a confissão é essencialmente enraizada na falta de temor de Deus e na descrença escondida. Assim, nossos esforços devem ser direcionados para esta área.

É por esta razão que as lágrimas são tão importantes durante a confissão - pois amaciam o nosso estado petrificado, quebrando as nossas barreiras de pedra, simplificando a nossa condição interna, retirando o grande obstáculo ao arrependimento : o nosso egoísmo.

Aqueles que são orgulhosos e auto-centrados, não choram. Mas se lágrimas caem, isso significa que nos tornamos mais suave, mais humildes. Após tais lágrimas há mansidão, ternura, paz no coração daqueles a quem o Senhor enviou uma alegria ao proporcionar o choro. O fiel não deve se constranger com as lágrimas durante a confissão, ao contrário, é preciso deixá-las fluir livremente, como uma limpeza para as nossas impurezas.


A terceira parte da confissão é a enunciação verbal dos pecados. Não se deve esperar o questionamento do sacerdote, mas sim ofertar um esforço próprio: a confissão é o trabalho espiritual de auto-coerção. Deve-se falar com precisão, sem encobrir a fealdade do pecado com expressões genericas (por exemplo, "Eu pequei contra o sétimo mandamento"). É muito difícil, ao confessar,evitar a tentação da auto-justificação, de evitar tentar explicar ao confessor todas as circunstâncias "atenuantes"(que geralmente provocam referências ao erro de terceiros) que nos levam ao pecado. Tudo isso é prova do egoísmo, da falta de um profundo arrependimento, e que ainda continuamos a chafurdar em nossos pecados.

Às vezes as pessoas referem-se a má memoria, que supostamente impede de lembrar de seus pecados. Na verdade, acontece que frequentemente nos esquecemos com facilidade dos nossos pecados, mas será que é mesmo devido a uma má memória? Por exemplo, podemos lembrar por muito tempo dos momentos em que nosso orgulho foi gravemente ferido ou, inversamente, quando fomos muito elogiados, reconhecidos. Tudo o que faz uma forte impressão sobre nós, lembramos de forma clara e por um longo tempo.
Pois se então, esquecermos os nossos pecados, isso não significa que damos pouca importância a eles? Como então se arrepender de algo que consideramos inexpressivo?

O nosso arrependimento não estará completo se não for desenvolvido em nós uma firme resolução de não voltar a pecar, aquilo que acabamos de confessar.

Mas como isso é possível, você pode perguntar? Como posso prometer a mim mesmo e ao meu confessor que não vou repetir o pecado? Não é justamente o inverso disso que forçosamente vai ocorrer - a certeza de que o pecado será repetido?

Felizmente, não é essa a realidade. Quando há um desejo sincero de se tornar melhor, não há uma única ocasião em que as confissões e comunhões consecutivas não produzam as mudanças favoráveis na alma. Além disso, nós não podemos ser nossos próprios juízes, uma pessoa não pode julgar corretamente a si mesmo, se ele se tornou melhor ou pior.

Além disso, o Senhor em Sua providência muitas vezes "fecha os olhos" para o nosso sucesso espiritual, a fim de nos proteger contra pecados piores - aqueles da vaidade e do orgulho.

Muitas vezes acontece que, embora ainda pecando,com as confissões freqüentes e participação dos Santos Mistérios, há um enfraquecimento das amarras do pecado, com uma consequente destruição de suas raízes. E a luta do bem contra o pecado,em si mesma, com o sofrimento por seus pecados - já não é uma aquisição vantajosa?

"Não tenhas medo" - disse João da Escada ", apesar de cair a cada dia, enquanto você não sair do caminho divino; lute bravamente, e o anjo que o guarda vai honrar a sua paciência."

Se não experimentarmos um sentimento de alívio, de renovação, temos de ter força suficiente para voltar a confissão, para liberar completamente a nossa alma da sujeira, para purificá-la com as lágrimas de todas as trevas de sua impureza.

Só não devemos atribuir os nossos sucessos para nós mesmos, pois devemos saber que não dependemos de nossos próprios recursos, daí que não faz sentido termos fé em nossa própria força. Se agirmos com orgulho, perderemos totalmente todos os beneficios que por ventura tenhamos adquirido.

"Captura a minha mente errante, ó Senhor, e purifica meu coração congelado, concedei-me o arrependimento de Pedro, o lamento do publicano, e as lágrimas da mulher pecadora."

Padre Alexander Elchaninov.

 

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