No dia 19 de Dezembro, as jurisdições da Santa Igreja que guardam durante todo ano o Calendário Juliano Tradicional, celebram o dia de São Nicolau, Arcebispo de Mira em Lycia.
O hino principal da Igreja Ortodoxa (troparion / apolytikion) para a festa de São Nicolau de Mira é o hino geral para todos os santos bispos da Igreja. O mesmo hino é cantado no dia seguinte à festa de São Nicolau, para a celebração de Santo Ambrósio de Milão. Este hino nos diz como um Bispo cristão (e, por extensão, também um presbítero) deve ser para o seu povo. E assim também nos diz como todos os cristãos devem ser.
O hino começa por nos dizer que: a verdade das coisas revela um verdadeiro pastor cristão para seu rebanho, e faz isso determinando três elementos.
Em primeiro lugar, a verdade das coisas revela o Bispo (ou presbítero) como um "cânone da fé." Isto significa que o pastor santo encarna o Evangelho de Deus em Jesus Cristo de uma maneira viva e vital em absolutamente tudo o que ele é, diz e faz. Ele não só "maneja bem (ou distribui) a palavra da verdade (2 Timóteo 2:15)", mas ele próprio é em vida, uma "regra" e "norma" para todos os que estão sob seu guiamento. Devem o conhecer e crer nele, para com base neste modelo, se comportarem como cristãos. Em segundo lugar; a verdade das coisas manifesta o Bispo (ou Presbítero) como um ícone da mansidão.
Isto significa que o pastor aprende de Cristo, o Bom Pastor, que disse "Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração". (Mateus 11:29). E tendo aprendido assim, o pastor se torna um padrão de vida e de imagem para o seu povo, os levando a Cristo pela mansidão, que segundo os Santos é uma qualidade divina que nenhuma criatura pode compreender adequadamente ou explicar.
Esta mansidão é a capacidade de expressar, exemplificar e encarnar o Evangelho de Deus em Jesus Cristo de forma clara , verdadeira e sóbria, através de modos gentis, sem raiva, aborrecimento, irritação ou a agressão de qualquer forma. É ser e agir como Cristo: afirmando a liberdade das pessoas, para salvaguardar a sua dignidade e instruí-las pelo exemplo.
Em terceiro lugar, a verdade das coisas revela o Bispo (ou presbítero) como sendo um professor de auto-controle. Auto-controle é como a palavra grega enkrateia (vozderzhaniye em eslavo), é traduzida para nós como, a virtude indicada no anúncio de São Paulo sobre os "frutos do Espírito Santo." (Gálatas 5:22)
Esta palavra é também traduzida como temperança. Então temos o pastor cristão como um ícone, como um cânone, e como professores para o seu rebanho. Um cânone da fé, um ícone de mansidão, e um professor de auto-controle. Duas outras coisas são, então, proclamadas no hino sobre o santo pastor.
A primeira é que "com humildade" o bom pastor adquire "coisas altas". A palavra humildade (em grego tapeinosis) significa esvaziamento, impotência segundo a carne. Isso significa que uma pessoa não deve ver nada como seu: não há pretensão de conhecimento, sabedoria, poder ou autoridade de qualquer tipo. As pessoas humildes entendem que tudo é um dom e uma graça, e como tal, elas vivem por Deus e não por eles próprios.
Eles percebem que nenhuma das suas palavras, ações, os poderes ou propriedades são próprias, para fazer o que bem entenderem. As pessoas humildes têm a capacidade de se ver não apenas como iguais a todos, mas sim como os mais fracos e menores, pois se vêem diante de Deus como estando abaixo de toda criatura. Assim elas são completamente desprovidas de vaidade, arrogância, luxúria, poder, vaidade e orgulho. O Senhor Jesus Cristo conciliou a humildade com a mansidão, quando disse "Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração (tapeinos en kardia). "
O segundo aspecto sobre o pastor santo é que "através da pobreza" ele adquire "coisas muito valiosas." Ele se torna rico nas coisas de Deus esvaziando-se, sem exceção, de todas as coisas terrenas. Neste sentido, o Bispo (ou presbítero) não possui absolutamente nada de seu. Ele não é proprietário de coisa alguma. Ele é sim, como a Sagrada Escritura diz: um "escravo" (doulos), um "servo" (Diakonos) e um "mordomo" (oikonomos).
A palavra Bispo (episkopos em grego), que literalmente significa supervisor, era o título dado ao chefe entre os escravos. O episkopos foi guia entre os servos e o primeiro administrador que "supervisionava" o trabalho de todos os outros escravos, servos e administradores. O episkopos falava em nome do Mestre, exercia a autoridade do Mestre, exercia o poder do Mestre, cuidava da propriedade do Mestre, guardava os seus bens, distribuia os bens do Mestre, mas ele não era o Mestre!
Assim, o ditado memorável de São Gregório, O Grande, que dizia: "o Bispo cristão (ou presbítero) é o proeminente servo-chefe dos servos de Deus ".
Ao refletir sobre o hino principal para São Nicolau e para todos os Bispos cristãos, não podemos deixar de recordar as palavras das Sagradas Escrituras sobre os Bispos da Igreja e presbíteros. Logo, um Bispo (episkopos), como mordomo de Deus (oikonomos), deve ser irrepreensível, não deve ser arrogante ou irascível, ou adepto de vícios, violento ou ávido de lucro, mas sim deve ser hospitaleiro, amante da bondade, senhor de si mesmo, justo, piedoso, e auto-controlado; ele deve manter firme a palavra certa, como ensinado, para que ele possa ser capaz de dar instrução em sã doutrina e refutar quem a contradiz. (Tito 1,7-9; ver também 1 Timóteo 3:1-13, 4:11-16)
Assim são exortados os anciãos (presvyterous) entre vós, assim como aos companheiros presbíteros (sympresvyteros) e a todas as testemunhas (mártires) dos sofrimentos de Cristo, bem como a todos os participantes da glória a ser revelada.
O pastor do rebanho de Deus, que está sob sua responsabilidade, exerce a fiscalização (Episkopê) não por constrangimento, mas sim espontaneamente, com entusiasmo, não como dominadores sobre aqueles que estão sob sua autoridade, mas sendo exemplo (typoi) para o rebanho. E quando o Supremo Pastor (arquipastor / archipoimenos) vier, este humilde pastor obterá a imarcescível coroa da glória. (1 Pedro 5:1-4). O hino a São Nicolau e a todos os santos bispos é concluído com a invocação: "Ó Pai Hierarca Nicolau, roga a Cristo nosso Deus, que nossas almas possam ser salvas. Assim, que a verdade das coisas neste dia santificado revele claramente o que Deus quer para nós e para nossa Igreja Ortodoxa, para que as nossas almas sejam salvas.
Pe. Tomas Hopko.